Comunicações

O VOO DA CRIAÇÃO LITERARIA:
A TESSITURA DOS ELEMENTOS DA NARRATIVA EM AVALOVARA, DE OSMAN LINS.

Harley Farias DOLZANE (UFPA)

RESUMO

A pesquisa busca uma abertura para compreender o sentido da obra literária imbricada no mistério da criação artística. Para tanto, pretende verificar e interpretar a maneira específica da tessitura dos elementos da narrativa em Avalovara (1973) de Osman Lins, a fim de percorrer questões fundamentais que subjazem no revestimento conceitual instaurado ao longo da modernidade literária. Em Avalovara, o leitor é encaminhado a um pensamento originário que resgata a instância poética da prosa, projetando o fazer artístico em uma dimensão mítica que é linguagem acontecendo em seu silêncio. Dá-se uma “desnaturalização” da narrativa a partir da construção que o romance faz do Narrador, Tempo, Espaço, Enredo e Personagens, revelados como questões. Neste re-velar, o tecido da obra vai se estruturando a cada leitura como que propondo a todo instante, na costura de cada palavra, na pintura de cada imagem, a indagação sobre o que é o Homem, o que é o Tempo, o que é o Espaço, qual a Ação que lhes anima. Com isso, o romance acaba por indagar o leitor sobre que homem ele é, a que tempo/espaço pertence, e que ação lhe anima. No vigor desse questionamento é que se insere não só o poder criativo da literatura, mas também da própria existência humana, possibilitando a experiência concreta de vôos para além das amarras conceituais e abstrações de cada época.

Palavras-chave: Linguagem. Hermenêutica. Criação literária. Elementos da narrativa. Osman Lins.





“NOIVADO”, DE OSMAN LINS: PERCURSO AO ENCONTRO DE SI MESMO E DO OUTRO.

Thaís de Nazaré Sarmento da SILVA (UFPA)

RESUMO


A narrativa “Noivado”, de Osman Lins, integrante da obra Nove, Novena (1966), evoca o pensar sobre a questão da liberdade existencial a qual somos dispostos. A liberdade para construirmos o nosso percurso existencial é a própria condição da nossa existencialidade. A poética de Lins, nessa narrativa, incita-nos a pensar o ser-no-mundo - Homem - em travessia para o encontro consigo mesmo, na dinâmica temporal a qual está lançado e nas proximidades do outro.
A narrativa conta a estória de Mendonça e Giselda, personagens que mantém um noivado de 28 anos, mas que têm suas existências separadas pelas escolhas que fizeram nesse percurso: a busca de ser o que se é figura na vivência dos personagens, no vigor de suas escolhas. Mendonça nega-se a compartilhar suas emoções com o outro, evitando as relações afetivas por medo de perder o governo de seu destino. Giselda o observa como à muitos personagens que compõe um só Mendonça, como fragmentos de uma vida que se esgota ao negar-se a auto-procura. Procurando por Mendonça, Giselda percebe a si mesma, envolta em lembranças e diante das escolhas futuras. A vida é esse encontro marcado consigo mesmo. O percurso existencial é de cada um, mas, inevitavelmente, constrói-se em relação ao outro e entre mundo.
Este estudo ressalta como os elementos composicionais em “Noivado” extrapolam a tessitura tradicional das narrativas naturalistas e realistas, evidenciando ao leitor a realidade da linguagem na trama poética. A linguagem narrativa convoca-nos à percorrer o sentido das questões por ela evocadas e que compõe o complexo horizonte poético de Lins, reportando-nos ao universo experimental da modernidade literária. Pretende-se, ainda, o diálogo entre a referida narrativa e algumas das postulações filosóficas do existencialismo de Jean Paul Sartre, como o ser-para-si, o outro e a liberdade.

Palavras-chave: Osman Lins, existência, outro. 


A MARCHA TRÁGICA DO HOMEM PELA EXISTÊNCIA:
“PENTÁGONO DE HAHN”, DE OSMAN LINS

Andréa Jamilly Rodrigues LEITÃO (UFPA)

RESUMO
O presente trabalho pretende compreender as figurações do trágico em “Pentágono de Hahn”, a terceira das nove narrativas que compõem a obra Nove, novena (1966), de Osman Lins. A pesquisa visa a um aprofundamento crítico acerca da poética do escritor pernambucano, inserindo-a no contexto da modernidade literária brasileira, na medida em que estabelece uma ruptura com o modo tradicional de narrar, trazendo a linguagem em sua dimensão originária para o proscênio da criação artística. As suas narrativas experimentais questionam os limites de representação do real no espaço da linguagem, incorporando na própria estrutura da obra a crise instaurada por uma redefinição do homem na dinâmica do tempo.O “Pentágono de Hahn” centra-se na chegada à cidade de um circo cuja atração principal é a elefanta Hahn. Como uma manifestação epifânica, o animal proporciona a recolha das diferenças em uma identidade e o elo originário entre as experiências existenciais de cinco personagens: o celibatário, a criança e seu papagaio, a senhora idosa, a jovem e seu amor incompreendido, o homem e suas lembranças. O entrelaçamento desses cinco personagens em torno da elefanta vislumbra a figura geométrica de um pentágono. 
Ao ritmo de uma marcha trágica pela existência, como a cumprida pela elefanta pelas ruas da cidade, o homem se depara com a finitude, a transitoriedade da vida material e o devir temporal. Submetido à liminaridade de sua existência, o homem está fatalmente entre as coisas, no interlúdio entre o destino do que lhe foi gratuitamente doado e a liberdade de assumir conscientemente escolhas e renúncias em meio a uma gama de possibilidades existenciais de realização: o celibato e a realização amorosa plena; o mundo infantil e o mundo adulto; a pressão social e o desabrochar do amor independente da idade; a recordação do passado e a exigência imediata do presente. 
O trabalho observa, também, como a narrativa “Pentágono de Hahn” reflete a respeito da prática da escrita e da própria obra de arte enquanto (des)velamento de sentidos e descortínio poético do secreto das coisas, uma vez que a potencialidade criadora da linguagem impulsiona vitalmente a revelação e a transfiguração do real.

Palavras-chave: Nove, Novena. Osman Lins. Trágico. Modernidade literária brasileira. Linguagem.


“UM PONTO NO CÍRCULO”:
A UNIDADE DA LINGUAGEM NA NARRATIVA DE OSMAN LINS

Mayara Lopes de LA-ROCQUE (UFPA)


RESUMO

Na narrativa “Um ponto no círculo”, da obra Nove, Novena (1966), de Osman Lins, abre-se um quadro de uma pintura ornamentada pelos ares do passado, de mulheres com seus longos cabelos, adereços e vestígios seiscentistas; de plantas, musgos e madeiras do século antigo, mas que ainda permeiam o corpo denso de uma pensão. Esta pensão é o cenário de um jogo amoroso entre um homem e uma mulher, personagens que não têm nomes, mas que são vivos em cores, em gestos e em fluxo de consciência, que, por sua vez, retomam, recorrentemente, as formas e as fulgurações do próprio acontecer existencial do texto.
Em tom onírico, no texto o sentido do Real é questionado. Sabendo-se que este se mostra como uma Questão, sempre velando a sua realidade, em cada linha da narrativa ele pode ser refletido em vários ângulos de múltiplos espelhos de significados, nunca chegando a uma reflexão conceitual pronta e comedida. “Um ponto no círculo” escapa da forma unilinear da construção literária, e a própria linguagem do texto evoca espaços em que sonho e realidade estão entrelaçados, de tal modo que não se pode mais distingui-los.
É nesse mesmo acontecer do Real que se expande um círculo entre as personagens e o acontecer do Tempo, que, em suas inúmeras configurações, se revela na força dos extremos: na Geometria e na Desordem, no Múltiplo e na Unidade, na força Feminina e Masculina, no Fluxo da Espiral e do Centro, encontrando, ainda assim, uma unidade existencial. Unidade esta que corresponde ao mesmo apelo em toda multiplicidade do acontecer-no-mundo: ao apelo do Silêncio, da Linguagem, da melodia do Real.
Dentro dessa perspectiva, o que se pretende na comunicação não é chegar a uma definição, mas, sim, a um caminho da Linguagem na narrativa, em que se revela a integração do caráter ontológico da obra literária com a obra do próprio Ser que somos.

Palavras-chave: Tempo. Existência. Jogo Amoroso. Unidade. Linguagem.